domingo, 15 de julho de 2012

   Olheiras e olhos vermelhos. Ela lavou o rosto na esperança de ficar com uma cara um pouquinho menos assustadora para sair do banheiro. Depois de muito tempo dedicado a fazer a comida sair, seus olhos lacrimejavam e doiam. Sua garganta protestava com uma sensação de peso e deslocamento e sua barriga doía devido à mais recente compulsão. Nunca saia tudo. Os melhores momentos para ela eram aqueles depois de 30 horas sem ingestão nenhuma de alimentos, indo ao banheiro esvaziar a bexiga a cada meia hora e o estômago leve, livre, sereno. O corpo tremendo de frio, a cabeça doendo perto dos olhos e a sensação de desmaio quando fazia algum movimento brusco. Ali ela se sentia digna de viver. Sentia seus esforços compensados e a sensação de controle sobre sua própria vida em suas mãos. Sentia como se não tivesse sido fraca e patética por tantos anos seguidos para chegar aquele estado lamentável. Sentia-se como uma nova pessoa, melhor, mais forte, superior.
   E tinha aqueles outros momentos. Aqueles incontroláveis, onde ela cogitava parar de ser assim, onde ela não aguentava mais. Não conseguia ficar sentada, ler ou levantar os braços, depois de dias sem comer seu corpo recusava qualquer tipo de atividade, tanto mental quanto física. E aqueles momentos onde, após uma compulsão, a comida não saia de jeito nenhum. Para esses casos, ela primeiro se odeia, e depois toma os laxantes. Vira a madrugada no banheiro, vomitando até o copo de água mais recente, aquele que era para tirar o gosto ruim da boca. Por que não para mais nada. Nem a água.
   As pessoas percebem, ela não entende porque. Está sempre cuidando para que ninguém note. Leva o prato para o quarto e volta com ele vazio. Elogia a comida. Mas ela perdeu 3 kilos em uma semana. E tem os olhos. E tem aquela cara que ela faz quando come. E aquela aura morta pairando ao seu redor. E a mania de perfeccionismo, e as idas frequentes à balança, e a sensação que nada está bom, e a falta de vontade de conversar e viver e cantar. Sua voz estava estranha. A garganta dóia. Tudo doía, principalmente se olhar no espelho e ver suas coxas, braços, barriga. Tudo gordo, flácido e patético. Patético como ela. Seu corpo era a imagem de como ela era por dentro: ridícula, fraca, desprezível. Talvez se ela fosse perfeita por fora, também o fosse por dentro. Talvez se fosse mais leve por fora, sua alma pudesse finalmente levantar voo, sair daquele lugar, elevar-se e crescer. Talvez se ela fosse mais frágil por fora seria mais feliz por dentro. Talvez as coisas melhorassem assim que seus ossos começassem a aparecer. Se ela parecesse uma princesa, e não um ogro, sua vida fosse de princesa também. Se ela fosse uma borboleta, e não um abutre, as coisas iam melhorar.
   Voaria leve como uma pena, frágil como um cristal, perfeita. Perfeita, como as coisas tinham de ser.
from: myprettyodd

3 comentários:

  1. Nossa... mto bonito! Quase chorei... estou sensível!! Como vai seu NF??? Força aí, hein?! Eu ainda estou seguindo o meu... Bjusss...

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  2. NF firme e forte! Vou fazer só 24hrs que to meio instável emocionalmente, não to em condições de 48 ;x

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  3. nossa,mto lindo...amei,assim como todos os posts,adoro seu blog demais ^^

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