Eu não sei como agir por medo de me machucar, e no final das contas é só isso, sabe? Eu preciso que procurem por mim, que deem pela minha falta, que se apaixonem por mim. Eu preciso que tomem as minhas decisões. Eu preciso de coisas que não existem, eu preciso de um amor inventado. Eu invento muitos amores. Eu vejo alguém real e tiro todos os defeitos, só fico com as qualidades e fico lá, na minha, idealizando. Idealizando como seria bom se "nós" rissemos juntos, e fizéssemos um sexo delicioso. Eu seria sua escrava na cama. E depois você cozinharia alguma coisa pra mim porque eu boto fogo na casa sozinha. E idealizando que você cuidasse de mim porque eu me machuco apenas enxugando a louça. E idealizando mais, que você sentisse muito ciume de mim, um ciume doentio, que não gostasse que eu ficasse com mais ninguém porque ai seria só eu e você.
Eu gosto de imaginar que você iria me querer no seu colo. Que iria ficar me atentando dizendo o quanto eu sou uma tosca e então você me beijaria. Com intensidade. Porque você me odeia tanto quanto eu te odeio por tirarmos o foco do nosso egoísmo, com o nosso amor. Eu não gosto da palavra amor, mas eu usaria com você. Eu diria que te amo. Não porque eu te amo, mas porque eu te odeio. Eu te odeio tanto, mas tanto, que eu estou aqui, te amando. E sabe, eu gostaria. Se "nós" estivéssemos juntos. Mas não tem nós, né?
E me falta a coragem. Coisa idiota. Coisa totalmente idiota. Coragem de chegar e dizer oi. Porque você pode não responder. E aí eu sou tão frágil que eu me quebraria em um milhão de pedaços. Sim, eu me refaria de novo, como eu fiz tantas vezes, mas olha, o acabamento fica péssimo. E quem é bom com acabamentos é você. Eu não poderia pedir a sua ajuda.
E sabe qual é a coisa mais engraçada? Todo mundo te odeia. Todo mundo mesmo. Você é um egoístazinho e até eu, que te amo, te odeio. Você gosta de alguém além de si mesmo? Porque eu gosto muito de você. Será que você também sentiu um amor a primeira vista quando me viu, que nem eu senti por você? Eu cheguei atrasada na aula. Você estava lá, se apresentando, e eu sentei no fundo com um amigo e fiquei rindo. Rindo a aula inteira, rindo de você, porque você é um escroto. E sério, a gente ria tão, mas tão alto, que todo mundo olhava. E você nem aí. Você cheio de confiança como sempre, sendo tão espontâneo com todo mundo. E engraçado. A gente disse que o requisito pra estar lá era fazer Stand-up, e a gente ria. E eu fiz isso pra você me notar, mesmo, mas você nem aí.
Imagina se você sentiu o mesmo por mim? Ódio a primeira vista? Se você pensou naquela escrota rindo de você no fundo da sala e me odiou, assim como eu estava te odiando. E no fim da aula eu ia fazer alguma pergunta qualquer sobre as aulas. Fingindo que eu não sei, só pra você falar comigo. Mas aí eu tenho o meu orgulho. Você é quem tem que falar comigo. E se você ficou esperando que eu aparecesse nas outras aulas, e eu não apareci, por medo de você. Por medo de te ver de novo e você falar comigo.
A gente se cruzou na rua esses dias. Você tava com uma cara engraçada, completamente no mundo da lua. Eu também estava, mas eu te senti do meu lado, olhei e era você. Com uma cara muito aleatória e engraçada perdido na própria cabeça. E eu também estava com essa cara. Será que você me viu? Eu te vi, seu cabelo fez reflexo do sol. Eu queria mexer no seu cabelo... Será que você gosta?
Eu queria que "nós" nos recusássemos a sair no dia dos namorados porque "nós" abominamos essa história de flores e de dar presente.
Mas não existe nós, né?
Stay Strong,
Hydra
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